O golpe do falso gerente é uma das fraudes mais sofisticadas praticadas atualmente contra correntistas e investidores. Diferente de crimes digitais mais óbvios, essa modalidade se apoia na engenharia social, explorando a confiança do cliente em sua própria instituição financeira. O fraudador se passa por um funcionário do banco — muitas vezes pelo próprio gerente da conta — e utiliza informações reais da vítima, como nome completo, agência ou últimos dígitos do cartão, para transmitir credibilidade. O contato costuma ocorrer por telefone ou WhatsApp, e em muitos casos o número exibido na tela é idêntico ao oficial do banco, por meio da técnica chamada spoofing. A partir daí, o criminoso cria um cenário de urgência, alegando, por exemplo, que a conta sofreu uma tentativa de invasão ou que compras suspeitas foram realizadas. O objetivo é induzir a vítima a fornecer senhas, códigos de autenticação, instalar aplicativos de acesso remoto ou realizar transferências para supostas “contas de segurança”. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), golpes baseados em engenharia social têm crescido exponencialmente, e o golpe do falso gerente figura entre os mais lesivos, justamente por parecer legítimo e pela dificuldade de identificação.
O setor bancário investe cerca de 10% do orçamento de TI (estimado em R$ 47,8 bilhões em 2025) em segurança da informação, ainda assim, os golpes seguem crescendo.
Execução da fraude – valores são rapidamente movimentados, geralmente via PIX.
Alguns sinais ajudam a desconfiar:
Ameaça de bloqueio da conta como recurso psicológico.
Maria recebeu uma ligação que parecia vir de sua própria agência bancária: na tela do celular apareciam o número do gerente e até a foto utilizada por ele no aplicativo. O suposto gerente informou que a conta de Maria estaria sofrendo uma fraude e que seria necessário realizar alguns passos para impedir maiores prejuízos.
Seguindo as orientações, Maria clicou em um link enviado durante a ligação. O link concedia acesso remoto ao celular. Assim que os criminosos tiveram controle do dispositivo, pediram para Maria verificar sua conta bancária e após acessar o aplicativo bancário, autorizaram operações e até utilizaram a câmera frontal para tirar selfies, aproveitando que Maria estava com o celular em mãos.
Em poucos minutos, foram realizadas mais de 20 transferências seguidas, que retiraram cerca de R$ 320 mil da conta de Maria, incluindo não apenas seu saldo, mas também limites de crédito disponíveis.
Um detalhe chama a atenção: Maria nunca havia feito transferências acima de R$ 1.200,00 em toda sua vida financeira. Ainda assim, o banco permitiu que dezenas de operações de alto valor fossem concluídas em sequência, sem qualquer bloqueio ou alerta de segurança. Essa falha no monitoramento de padrões de movimentação — algo comum em casos de fraude — mostra a responsabilidade da instituição em não adotar mecanismos adequados de prevenção.
A vítima do golpe do falso gerente não está desamparada. O ordenamento jurídico brasileiro prevê instrumentos de proteção importantes:
Quando o banco falha nesses deveres de segurança e controle, abre-se espaço para responsabilização judicial, com restituição de valores e, em muitos casos, indenização por danos morais.
Entenda seus direitos e o que fazer, passo a passo, se foi vítima de um golpe com PIX.
Sim pode. A responsabilidade das instituições financeiras é objetiva, conforme artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC). O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já consolidou o entendimento de que golpes praticados por engenharia social se enquadram como fortuito interno, ou seja, risco da própria atividade bancária. Isso significa que, mesmo quando o cliente, induzido em erro, fornece senhas ou códigos, a instituição pode ser responsabilizada.
O prazo imediato é fundamental: o cliente deve notificar o banco o quanto antes, pois o Mecanismo Especial de Devolução (MED), previsto na Resolução BCB nº 103/2021, pode ser acionado em até 80 dias após a transação.
O MED é uma ferramenta criada pelo Banco Central para possibilitar o bloqueio de valores transferidos em situações de suspeita de fraude. Ao ser acionado, o banco recebedor pode reter os recursos por até 72 horas, permitindo investigação. Confirmada a fraude, os valores são estornados ao cliente lesado. No caso do golpe do falso gerente, acionar o MED imediatamente aumenta consideravelmente as chances de recuperação.
O MED é uma ferramenta criada pelo Banco Central para possibilitar o bloqueio de valores transferidos em situações de suspeita de fraude. Ao ser acionado, o banco recebedor pode reter os recursos por até 72 horas, permitindo investigação. Confirmada a fraude, os valores são estornados ao cliente lesado. No caso do golpe do falso gerente, acionar o MED imediatamente aumenta consideravelmente as chances de recuperação.
Sim. O boletim de ocorrência é indispensável para:
Servir de base em eventual ação judicial.
Sem o BO, o banco pode alegar ausência de prova da fraude ou descaso da vítima.
Sim. O Judiciário reconhece que a vítima sofre não apenas perda patrimonial, mas também abalo psicológico e constrangimento. A jurisprudência permite a cumulação do pedido de devolução dos valores com indenização por danos morais, aplicando os artigos 186 e 927 do Código Civil.
O advogado especializado em fraudes bancárias não atua de forma automática, mas sim analisando minuciosamente o caso para identificar as falhas do banco. Essa análise envolve verificar:
Omissão da instituição: há situações em que o cliente comunica a fraude, mas o banco falha em acionar os mecanismos de recuperação, retirando a chance de estorno imediato.
O advogado especialista em fraude consegue, portanto, avaliar o cenário, indicar as medidas mais eficazes e agir de forma estratégica para proteger os direitos do cliente nesse momento tão crítico.
O golpe do falso gerente é o ápice da fraude digital: mistura manipulação psicológica com falhas de segurança tecnológica. O cliente fica vulnerável, mas o banco tem o dever legal de prover sistemas capazes de identificar comportamentos atípicos e evitar prejuízos.
Se você foi vítima ou reconhece sinais desse golpe, procure imediatamente orientação jurídica especializada, clique e fale com um advogado. Agir rápido aumenta significativamente as chances de recuperar os valores e de responsabilizar a instituição financeira.